13.4.10

Brasil - Duas Adolescentes Mortas Com Pulseiras do Sexo


Jornal O País - As raparigas foram violadas e mortas na noite de sexta-feira, 2 de Abril, em Manaus, a capital do estado brasileiro de Amazonas.
O corpo de uma das jovens foi encontrado numa rua do bairro de Valparaíso, na zona este de Manaus, com duas pulseiras partidas ao seu lado.


Na madrugada seguinte, no sul da cidade brasileira, outra adolescente de 14 anos era encontrada sem vida no quarto de um motel. Ao seu lado estavam seis pulseiras partidas, as mesmas que o seu pai a proibira de usar.

E não lhe faltavam motivos. No estado do Paraná, no outro extremo do país, um juíz proibiu a venda e uso de "pulseiras do sexo" por parte de menores, depois de uma rapariga de 13 anos ter sido violada por vários rapazes, aparentemente também por causa das pulseiras.

As pulseiras coloridas de silicone, que podem ser compradas no Brasil por cerca de 2 reais (cerca de um dólar), estão a ganhar a desconfiança de pais e professores. Aparentemente, a cada cor corresponde um jogo erótico, mas nem todos os adolescentes têm conhecimento destes significados e usam as pulseiras sem qualquer conotação ou objectivo sexual.
Alarme nas escolas

O modismo inocente apenas à primeira vista teve início na Inglaterra, conhecido como Snap e as pulseiras naquele país são chamadas de “shag bands” (“pulseiras do sexo”, em tradução livre). Hoje, a moda espalhou-se em escolas do ensino fundamental de Curitiba (Brasil) e está a fazer com que as direcções de colégios tomem atitudes de orientação. As pulseiras são finas, coloridas e de silicone, que começaram a aparecer nos braços de pré-adolescentes e adolescentes de duas semanas para cá.

Diferentemente das pulseiras da campanha contra o câncer, promovida pelo ciclista Lance Armstrong e que viraram fenómeno mundial há cinco anos, os novos adereços fazem parte de um jogo de conotação sexual. Cada cor representa um acto afectivo, ou sexual, que vai desde um abraço a relações sexuais completas. Em teoria, a pessoa que teve a pulseira arrebentada deve cumprir o que comanda a cor.

Em Curitiba, no Brasil, a novidade é facilmente encontrada em banquinhas de camelôs (vendedores ambulantes). Cada conjunto com 20 pulseiras custa R$ 2,50 (pouco mais de 1 dólar) em média. Elas são chamadas pelos vendedores de “pulseira da malhação”. O nome pode ser referência à gíria para beijo, ou à novela dirigida para o público adolescente que faz sucesso entre os jovens. Mas também são conhecidas como “pulseira do sexo” e “pulseira da amizade”.

Nas escolas de Curitiba, a pulseira começou a aparecer há dez dias, de acordo com as direcções de colégios, nos braços de estudantes a partir de 10 anos de idade até de adolescentes de 15 anos.

Mesmo que todas as regras do jogo não estejam sendo cumpridas pelos pré-adolescentes, algumas direcções tentam acabar com a prática.

Nas escolas do grupo Bom Jesus, orientadores educacionais passam de sala em sala para conversar com os alunos e pedindo que não usem mais o adereço. O Colégio Marista Paranaense tomou uma medida semelhante e a direcção prepara uma carta aos pais explicando o real significado do inocente adorno, que deverá ser entregue por e-mail, na próxima semana. “Se alguém tiver de proibir, tem de ser os pais”, lembra o diretor-geral, Valentin Fernandes. Enquanto isso, os professores orientam os poucos alunos que foram vistos com as pulseiras.

A diretora da escola particular Unika, localizada no Novo Mundo, Solange Fortunatto Unika, conta que lá o caso das pulseiras coloridas foi resolvido de forma rápida.

Há pouco mais de dez dias, tão logo percebeu o real significado da bijutaria, resolveu reunir os poucos alunos que já tinham aparecido na escola e explicar a conotação do uso. “A grande maioria nem sabia o que significavam as cores. Assim que souberam, tiraram sem problemas”.
Diálogo antes de proibição

A psicóloga Fernanda Gorosito, da clínica Criança em Foco, diz que os pais não devem agir de forma apressada se perceberem que seus filhos compraram ou ganharam as pulseiras. “A proibição vai causar maior curiosidade. Para as crianças, não passa de uma brincadeira, elas não entendem a conotação do acto. Os pais precisam conversar para explicar que isso pode ser um acto de desrespeito com o próprio corpo”, diz a psicóloga. Ela explica que a partir dos 8 anos as crianças começam a diferenciar o masculino do feminino e a mostrar sentimento pelos colegas. Por isso alguns chamam um amigo de namorado, ou namorada, sem sequer trocar um beijo. “O namoro nessa idade consiste em tomar o lanche juntos, por exemplo. Eles estão desenvolvendo o gostar, o diferenciar os sexos.

Mas ainda não têm noção do que é desejo sexual, o que vão desenvolver somente na adolescência”, diz a psicóloga. Ela reafirma, no entanto, que mesmo para adolescentes essa orientação sobre respeito ao corpo deve partir dos pais, que com calma precisam de estabelecer os limites.

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