8.7.08

Descolonização de Angola

Este texto, foi retirado de um forum (Sanzalangola) e escrito por Jorge Joaquim residente na cidade de Luanda. Com a devida vénia, transcrevo-o para o meu blogue, porque gostava muito que tivesse sido escrito por mim.

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O conflito entre o governo colonial português e os povos do ultramar, era real e fazia parte da agenda da política internacional.

O fascismo português era cego. Podes começar a encontrar o 1º culpado. Aponta esse. Assim já tens 1 culpado. O primeiro culpado. Não entenderam atempadamente que tinham que promover a independência das colónias.

A seguir que mais culpados queres? Vamos ver se encontramos o segundo culpado?

Então vamos a isso.

Em Portugal o regime fascista só podia cair pela força. Pois esse regime nunca abriu a porta para ser ele a conduzir a abertura à democracia. Quando assim é...só pela força. Pelas armas. Foi isso que aconteceu. Os que tinham as armas fizeram o 25 de Abril.

Em Portugal a democracia foi alcançada. Fez o seu percurso. O país não entrou em guerras, não se dividiu.

O que aconteceu nas colónias?

Aqui começamos a encontrar o segundo culpado. O novo poder de Lisboa, não esteve à altura das responsabilidades históricas para com o seu império.
E não esteve em consequência do passado fascista. Do Primeiro culpado.
As coisas precipitaram-se. Portugal foi a única potência colonial que faz a descolonização estando eles próprios a passar por uma transformação política. O forte contingente de esquerda da nova liderança do novo poder político e militar de Lisboa não foi responsável na condução do processo de descolonização. O centro e a direita política não teve força para se impor, e desiste naturalmente de intervir no processo de descolonização. As colónias deixaram então de ter interesse, agora a luta política teria que ser em Portugal.

Todos os políticos em Portugal quiseram então resolver, melhor dizendo, sacudir esse problema.

Negociaram rapidamente e mal a transição para as independências das colónias. A sociedade civil das colónias não foi ouvida.

As negociações fizeram-se com os que fizeram a luta armada, ou a resistência política organizada como no caso de São Tomé e Príncipe.

Mas isso foi um erro. Porque mais uma vez as populações não foram ouvidas.

Passaram de uma tutela, a colonial fascista, para outra, a dos Movimentos de Libertação.

Ninguém lhes perguntou quantos dentes tinham na boca.

Meus amigos, disseram os que se despediam depois de 500 anos; Agora os novos patrões aqui são estes. E ponto final.

Aqui tens o Segundo Culpado. Resumidamente claro. Aponta lá mais esse. O novo poder de Lisboa. Já vamos no Segundo Culpado. Mas não ficamos por aqui.

Vamos falar do terceiro. E aqui passo só a falar de Angola. As outras colónias ficam de fora.

Em Angola os 3 movimentos eram reféns das ajudas externas que beneficiaram durante os longos anos da guerra colonial. Eram reféns da tal de política internacional. Dos blocos da época. Da Guerra-Fria.

Os movimentos de libertação em Angola estavam tão preparados para governar Angola como eu para ser agora o novo secretário da Nações Unidas.

Depois ainda foram muito ingénuos. Tocaram a música dos interesses externos. Todos eles. O MPLA, a FNLA e a UNITA. A agenda deles era tomarem o poder. E passar a perna aos outros. E (incentivados) ao som da música dos que os andaram a financiar anteriormente.

Aponta aí o terceiro culpado. MPLA, FNLA, UNITA. Falharam claramente os três.

Vamos ao quarto culpado? É fácil. Estados Unidos da América e URSS. Que arrastaram o planeta todo na sua guerra para imporem a sua vontade. Aponta então estes.

Depois o que se passou já sabes tu. Que optas-te por apanhar o avião e bazaste.

Os que optamos por ficar também sabemos.

E depois aqui cada um alinhou naquilo que nos apresentava o quer era o melhor para si e para o país.

E resistimos 34 anos. Foram longos anos de espera para chegarmos aqui.

Quando isto podia ter sido resolvido de outra forma há 50 anos atrás. Meio século é muito tempo meu amigo.

Meu caro. Resumidamente e superficialmente te disse aqui o que penso. E fico espantado que ainda haja quem não entenda o que se passou.

E venham aqui com as tretas que foi Abril, que foi isto e mais aquilo. Foi é o somatório de tudo isso.

Mas o primeiro terá que ser sempre o fascismo português. Os fascistas coloniais serão sempre os primeiros culpados.

Que não souberam enxergar a história. Até os do apartheid souberam ver a hora de mudar de rumo.
Quanto mais extremas as posições, mais complicadas ficam as situações.

Angola devia ter sido independente no princípio dos anos 60. Essa é a verdade.

Kandandus.

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